Neste sábado (7), 120 pessoas fizeram uma passeata na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo, para protestar contra repressores da ditadura. Em defesa da Comissão da Verdade e pela punição dos agentes do regime militar, o grupo fez um ato na frente da casa de Harry Shibata, médico e diretor do IML (Instituto Médico Legal) entre 1976 e 1983.
Jovens ergueram faixas com palavras de protesto e deixaram no local uma coroa de flores, lembrando as vítimas da ditadura. A palavra “assassino” foi escrita no muro da casa. De acordo com a organização do protesto, Shibata assinava laudos necroscópicos atestando falsamente a causa de morte de militantes antirregime. É dele, por exemplo, a versão de suicídio para a morte do jornalista Vladimir Herzog.
A intenção dos manifestantes, que não estão ligados a entidades ou partidos políticos, foi tornar públicas ações como tortura e ocultação de cadáver praticadas pelo regime militar. Pedro Nogueira, um dos organizadores, diz que a luta pela memória está ganhando força no país
– A Comissão da Verdade periga ficar no papel. Já que não há Justiça, há o esculacho. Temos que cobrá-la nas ruas. Sem pressão da população, ela [a comissão] não vai sair.
Criada em novembro de 2011, a comissão será responsável por investigar violações dos direitos humanos entre 1946 e 1988, sem poder de punição. O período inclui a ditadura militar (1964-1985), que deve ser o foco principal dos trabalhos. Por tensões entre militares e o governo, os integrantes do grupo ainda não foram escolhidos.
Memória das vítimas
Os manifestantes levaram às ruas do bairro Vila Madalena uma série de placas com imagens e histórias das vítimas da ditadura. Levantando uma delas estava Amelinha Teles, de 67 anos, que tem três parentes desaparecidos na Guerrilha do Araguaia. Ela conta que a família já ganhou uma ação judicial na Justiça brasileira e também na OEA (Organização dos Estados Americanos), mas o Estado ainda não puniu os culpados pela morte de seus cunhados e ainda não localizou os corpos.
– É um orgulho ver esses jovens nas ruas, com essa luta tão necessária. Essa memória não vai ser perdida. […] Esse problema não é restrito às famílias de vítimas, mas a todos que morreram para libertar o país de uma ditadura. Foi uma luta por todo o povo brasileiro.
Também presente na manifestação, o ativista José Luiz Del Roio, 70 anos, teve 60 colegas desaparecidos na ditadura. Ele era membro do Partido Comunista Brasileiro no início da ditadura e depois atuou na ANL (Aliança Libertadora Nacional).
– Foi terrível ver tanta gente jovem – alguns até mais novos do que eu – morrerem.
Sobre a Comissão da Verdade, Del Roio diz que é uma boa iniciativa, apesar de muito tardia.
– Muitos dos velhos já morreram, sem saber o que aconteceu com seus irmãos, pais e mães. Entendo que as pressões que a presidente [Dilma Rousseff] sofre são fortes, mas é uma questão que envolve toda a nação.
Fonte: TNonline