A primeira fase do Plano Diretor de Mobilidade da Região do Grande ABC, realizado pelo Consórcio Intermunicipal Grande ABC em conjunto com a Oficina Consultores Associados, foi concluída e apresentada na tarde desta segunda-feira (12/11), na cidade de Santo André. O diagnóstico, que apresenta dados e análises preliminares das condições de mobilidade nos sete municípios, identificou 210 demandas de obras na região, sendo que 43 já foram executadas, 4 foram descartadas (todas em Ribeirão Pires) e 163 ainda estão na ativa, a maioria em São Bernardo (37) e Santo André (36).
Do total, 20 são de obras para melhorias, 39 são obras de ampliação da capacidade do sistema, 93 de viário novo e 11, intervenções modestas que priorizam o transporte coletivo. Entre as demandas estão as obras do eixo Anchieta, como a construção de uma ponte estaiada no km 14 (extensão da Av. Lauro Gomes até Avenida Tietê) e de um trevo de acesso da Via Anchieta para a Av. Guido Aliberti, em São Caetano.
Orçado em R$ 1 milhão, sendo R$ 800 mil provenientes do governo do Estado e R$ 200 mil custeados pelo próprio Consórcio, o Plano visa propor ações regionais de mobilidade urbana que subsidiem políticas e projetos comuns ou integrados entre os municípios do ABC.
Segundo Marcos Bicalho, arquiteto da Oficina Consultores Associados, a próxima fase do projeto classificará as demandas em obras de interesse local, municipal e regional. “A etapa futura irá esquematizar as propostas que o Plano está elaborando e apresentará diretrizes. A implantação dessas diretrizes exige uma etapa mais detalhada, que inclui a participação das prefeituras na elaboração dos projetos”, aponta.
O arquiteto ainda ressalta a importância relativa das demandas identificadas na primeira fase do Plano. “São obras que contribuem para resolver alguns gargalos na região. Alguns são problemas presentes e outros, futuros. O caso da ligação de Santo André com Sertãozinho, por exemplo, não é tão evidente hoje, mas a previsão que Mauá faz é que, com o Rodoanel, a instalação de empreendimentos de logística e de transporte de carga será intensa. Nos próximos anos, o crescimento da demanda por transporte no local será muito grande”, explica.
Para Andrea Brisida, coordenadora do GT de Mobilidade do Consórcio, o principal ganho com o estudo é a classificação e priorização das demandas de obras. “A partir do momento em que a gente identifica algumas obras como de interesse regional, isso respalda tanto o Consórcio quanto o município a pleitearem recursos.”
Ainda de acordo com a coordenadora, a conclusão do Plano, que estava prevista para dezembro, será prorrogada para o início de 2013, para que os prefeitos eleitos possam se inteirar do projeto e adicionar suas propostas para a mobilidade regional.
Integração tarifária
A integração entre as redes de transporte com diminuição da tarifa é uma das metas a serem perseguidas na região, na opinião de Marcos Bicalho. “Há um entendimento de que o sistema viário extrapola o interesse local. A ideia é que as redes de transporte sejam integradas, inclusive no quesito tarifário, e não sobrepostas e competitivas entre si, como vemos hoje”, diz.
O especialista explica que a integração tarifária é complicada na prática porque provoca redução do dinheiro do caixa do sistema. A questão, para Bicalho, seria resolvida com planejamento. “Quando você faz a integração, você planeja melhor a rede e ganha uma redução no custo operacional. Na teoria, os ganhos eficientes seriam repassados aos usuários, que pagariam tarifa mais barata.”
Condições da mobilidade na região
De acordo com o diagnóstico, pouco mais de 6 milhões, das 38 milhões de viagens realizadas na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), tem origem ou destino no Grande ABC, sendo que 4,8 milhões delas são internas, 1,1 milhão têm origem ou destino na Capital e 80 mil nos demais municípios. São Bernardo e Santo André, mais populosos, concentram maior participação nas viagens realizadas no ABC: 29% e 27%, respectivamente. Do total de viagens feitas, 43% são a trabalho, 34% para educação e 11% para assuntos pessoais.
Em relação ao conjunto da RM, o ABC apresenta índice superior de utilização do transporte individual (34,3% ante 29,5%), menor de utilização do transporte coletivo (31,3% ante 36,5%) e se aproxima da Região Metropolitana no uso dos meios de transporte não motorizados (34,5% ante 33,9%).
São Caetano do Sul tem a maior utilização relativa do transporte individual (50,6%) e a menor utilização do transporte coletivo (17,2%). Mauá apresenta maior utilização dos transportes não motorizados (47,0%), seguida por Rio Grande da Serra (41,9%) e Diadema (41,8%).
De acordo com Marcos Bicalho, a presença da indústria automobilística no ABC causa impacto significativo no aumento na frota de veículos. A média regional, segundo o especialista, é 15% maior do que na RMSP. Em números relativos, São Caetano possui a maior taxa de distribuição de frota (número de veículos dividido pelo número de habitantes), com 0,3, seguido de Santo André (0,24), Ribeirão Pires (0,23) e São Bernardo (0,22).
De proponente a executor
João Ricardo Guimarães, secretário executivo do Consórcio Intermunicipal Grande ABC, sublinhou o papel da entidade na discussão de temáticas a nível regional. Para ele, o Plano Diretor de Mobilidade da Região do Grande ABC marca uma nova fase do Consórcio.
“Fica claro que, a partir desse Plano, há demandas para os prefeitos regionais; a integração tarifária é uma delas. A realização desse estudo tem a ver com o próximo momento da gestão do Consórcio, que visa deixar de ser um agente proponente para ser agente executor de políticas públicas junto às prefeituras locais”, aponta.
Fonte: Repórter Diário