Cariocas não gostam de sinal fechado e costumam trazer na ponta da língua a lista dos mais demorados. O Globo saiu às ruas, perguntou a motoristas quais os sinais mais lentos do Rio e tirou a prova com um cronômetro de celular: em alguns cruzamentos, como o das ruas Coelho Neto com Pinheiro Machado, em Laranjeiras, gasta-se até dois minutos e 45 segundos parado, esperando o momento de cruzar a via. Quando aparece a luz verde, é preciso ser rápido: em algumas horas do dia, o sinal é regulado para a travessia ser feita em 20 segundos.
Tempo de espera é sinal verde para artistas
A artista circense Josimery do Carmo já traçou um roteiro dos sinais mais longos. Há três meses no Rio, a baiana elegeu o semáforo da esquina das ruas São João Batista com Mena Barreto, em Botafogo, como o seu preferido. Pudera: na quarta-feira, com o sol escaldante, o motorista esperava um minuto e 31 segundos, tempo suficiente para ela fazer sua apresentação. De acordo com a CET-Rio, a média ali é de 36 segundos aberto e dois minutos fechado.
— Tenho shows de 45 e 30 segundos. Na São João Batista, com quase um minuto e 30 segundos de sinal fechado, eu faço o maior. No Rio, os sinais ficam fechados em média de 45 segundos a um minuto e 15 segundos. Dá para trabalhar bem. O da Rua Humaitá, perto do Corpo de Bombeiros, também é bom — afirma Josimery.
Alegria de uns, tristeza de outros. Um dos pontos de suplício apontado por motoristas é a Rua General Felicíssimo Cardoso, na esquina com a Avenida das Américas, no bairro da Barra da Tijuca. Na última quarta-feira, por volta das 11h, o sinal ficava um minuto e 57 segundos fechado. E apenas 32 segundos aberto. Pela medição da CET-Rio, naquele ponto, a média é de 29 segundos de sinal verde e um minuto e 50 segundos de vermelho em dias úteis, às 18h, por exemplo.
— É um problema sério. Quando o sinal abre, todo mundo buzina para que os outros andem rápido. E a lentidão se reflete na Avenida Marechal Henrique Lott — conta a estudante Ana Cristina Sousa.
Na Avenida Visconde de Albuquerque, na esquina com a Rua Mário Ribeiro, no Leblon, o motorista também espera bastante: o sinal fica verde por 29 segundos e vermelho por um minuto e 53 segundos. A CET-Rio informa que, na J.J Seabra com a Borges de Medeiros, o tempo médio do sinal, às 18h, nos dias de semana, é de 23 segundos aberto e um minuto e 50 segundos fechado. Uma pequena diferença em relação ao tempo medido pelo GLOBO (dois minutos vermelho e 19,72 segundos verde) na quarta-feira, às 10h30m. Mas o suficiente para exigir paciência extra de quem segue em direção à Lagoa.
Para o motorista profissional Manoel Lima Rocha, que diariamente passa pelo local, aquele sinal é um dos pontos em que perde mais tempo:
— É estressante. Se você estiver na décima fila de carros e o motorista lá da frente for mais lento, tem que esperar o próximo sinal verde.
O semáforo da Rua Coelho Neto, em Laranjeiras, tem má fama entre motoristas. Em algumas horas, o sinal verde dura menos que 20 segundos. No horário de pico, em dias úteis, os motoristas encaram o sinal vermelho por um minuto e 53 segundos, segundo a CET-Rio.
— Esperar é um inferno, porque há muitos assaltos, falta segurança — diz a motorista Janaína Pires.
O comando do 2º BPM (Botafogo) determinou o reforço no patrulhamento na área da Rua Coelho Neto e informa que faz operações, com o apoio da Secretaria municipal de Assistência Social, para recolher moradores de rua. Em março, foram presos 30 suspeitos de roubos a transeuntes. O batalhão acrescenta que realiza operações de trânsito para coibir roubos.
Os ‘atletas’ de rua em ação
Se por um lado motoristas reclamam dos demorados sinais vermelhos, de outro pedestres dizem que é preciso ser “atleta” para atravessar a rua em alguns semáforos no Rio. Um deles, na Avenida Presidente Vargas no cruzamento próximo à Praça da República, é apontado como vilão por quem circula a pé pela área da Central do Brasil. Na Barra, o sinal na Avenida das Américas em frente ao Città America é outro alvo de críticas. Na quarta-feira, ao meio-dia, o tempo de sinal verde era de 45 segundos contra 1m44s de vermelho.
— É impossível atravessar a rua toda sem correr — reclamou Maria Luiza Pena.
A CET-Rio alega que o tempo desses sinais foi programado para uma travessia em etapas.
— A média de velocidade para travessia, em grandes vias no mundo, é de 1,2 metro por segundo. No Rio, usamos um metro por segundo para dar mais segurança. Este tempo de travessia é calculado em função da largura da via, e as pessoas não devem atravessar de uma vez só — diz o diretor da CET-Rio, Ricardo Lemos.
Fonte: O Globo